14 de out. de 2002

Metade
Que a força do medo que eu tenho,
não me impeça de ver o que anseio.

Que a morte de tudo o que acredito
não me tape os ouvidos e a boca

Porque metade de mim é o que eu grito,
mas a outra metade é silêncio...

Que a musica que eu ouço ao longe,
seja linda, ainda que triste...

Que a mulher que eu amo
seja pra sempre amada
mesmo que distante

Porque metade de mim é partida
mas a outra metade é saudade

Que as palavras que eu falo
não sejam ouvidas como prece,
e nem repetidas com fervor,

apenas respeitadas,
como a única coisa que resta
a um homem inundado de sentimentos

Porque metade de mim é o que ouço,
mas a outra metade é o que calo

Que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz
que eu mereço

E que essa tensão
que me corrói por dentro
seja um dia recompensada

Porque metade de mim é o que eu penso
mas a outra metade é um vulcão

Que o medo da solidão se afaste,
e que o convívio comigo mesmo,
se torne ao menos suportável

Que o espelho reflita em meu rosto,
um doce sorriso,
que me lembro ter dado
na infância

Porque metade de mim
é a lembrança do que fui,
a outra metade
eu não sei

Que não seja preciso
mais do que uma simples alegria
para me fazer aquietar o espírito

E que o teu silêncio
me fale cada vez mais


Porque metade de mim
é abrigo,
mas a outra metade
é cansaço

Que a arte nos aponte uma resposta,
mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
porque é preciso simplicidade
para faze - la florescer

Porque metade de mim é platéia,
e a outra metade é canção

E que a minha loucura seja perdoada,

Porque metade de mim é amor,
e a outra metade...
também...

(Oswaldo Montenegro)

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