3 de out. de 2004

Pensar no tempo


Se o meu olhar te acariciasse
As minhas mãos desenhassem o teu corpo
E roubassem toda a paixão contida
Na procura de te descrever na memória


Se a minha alma exultasse o triunfo
Derramasse um suspiro de felicidade
Entre o eclodir da mentira e da fantasia
E me assumisse numa verdade de sentimento


Se me beijasses pra poder sentir a inconstância
Com uma proximidade paulatina e suave
Que registasse todos os momentos alucinantes
Em que bebemos do mesmo copo a luxuria


Se não sentisse dificuldade em dar valor ao tempo
Aos momentos em que os nossos braços se envolviam
E procurasse entender as sensações esquecidas
Misturadas na peculiaridade de todos os instantes


Se tudo me parecesse amargo e real
E me transfigurasse nos contactos deliciosos
Alcançando toda a magia daqueles efeitos
Que nos levaram ás margens da irreflexão


Se conseguisse entender o valor do que passamos
O quão importante das lutas da vivência em conjunto
O quão persistentes fomos em perpetuar esboços
E assumir que os nossos toques de corpo nos renovavam


Poderia aspirar à multiplicação das horas
Reduzir a felicidade aos minutos intensos e deslumbrantes
E faria com que a caminhada fizesse sentido
Sem te perder quando entrelaço as minhas mãos nas tuas