24 de mar. de 2008

Já fui de esconder o que sentia, e sofri com isso, hoje não escondo nada do que sinto e penso, e as vezes também sofro com isso, mas ao menos não compactuo mais com um tipo de silêncio, o silêncio que tortura o outro, que confunde , o silêncio a fim de manter o poder num relacionamento.
Assisti ao filme ´´ Mentiras Sinceras ´´ com uma pontinha de decepção – os comentários haviam sido ótimos, porem a contenção inglesa do filme me irritou um pouco – mas, nos momentos finais uma cena aparentemente simples redimiu minha frustração .
Embaixo de um guarda-chuva, numa noite fria e molhada, um homem diz para uma mulher o que ela sempre precisou ouvir. E eu pensei : como +e fácil libertar uma pessoa de seus fantasmas e, libertando – a, abriu uma possibilidade de tê-la de volta, mais inteira..
Falar o que sente é considerado uma fraqueza. Ao sermos absolutamente sinceros, a vulnerabilidade se instala. Perde – se o mistério que nos veste tão bem, ficamos nus. E não é este tipo de nudez que nos atrai.
Se a verdade pode parecer perturbadora para quem fala, é extremamente libertadora para que ouve. É como se uma mão gigantesca varresse num segundo todas as nossas duvidas. Finalmente se sabe.
Mas sabe o que ? o que todos nos queremos saber : se somos amados.
Tão banal não ?
E no entanto essa banalidade é fomentadora das maiores carências, de traumas que nos aleijam, nos paralisam, e nos afastam das pessoas que nos são mais caras. Por que há dificuldades de dizer para alguém o quanto ela é – ou foi – importante ?
Dizer não com recurso de sedução, mas como ato de generosidade, dize sem esperar nada em troca. Dizer simplesmente.
A maioria das relações, ampara – se em mentiras parciais e verdades pela metade. Podem, - se passar anos ao lado de alguém falando coisas inteligentíssimas, citando poemas, esbanjando presença de espírito, sem alcançar a delicadeza de uma declaração genuína e libertadora, dar ao outro uma certeza e, com a certeza a liberdade. Parece que só conseguiremos manter as pessoas ao nosso lado se elas não souberem tudo. Ou., ao menos se não souberem o essencial. E assim através da manipulação, a relação passa a ficar doentia, inquieta, frágil. Em vez de uma vida a dois, passa – se ter uma sobrevida a dois.
Deixar o outro inseguro é uma maneira de prendê-la a nós , e este ´´nós ´´ inspira um providencial duplo sentido. Mesmo que ele tente se libertar, estará amarrado aos pontos de interrogação que colecionou. Somo sádicos e avaros ao economizar nossos ´´ eu te perdôo ´´ , ´´ eu te compreendo ´´ , ´´ eu te aceito como es ´´ e o nosso mais profundo ´´ eu te amo´´ , não o eu- te- amo- dito as pressas no final de uma ligação telefônica, por força do habito, e sim o eu- te- amo , que significa : ´´ seja feliz da maneira que você escolheu, meu sentimento permanecera o mesmo ´´ .
Libertar uma pessoa pode levar menos de um minuto. Oprimi-la é trabalho para uma vida. Mais que as mentiras, o silencio é que é a verdadeira arma letal dos relacionamentos humanos.

Por isso fale.