13 de ago. de 2002

DIFERENÇAS




Se não te traduzo em palavras
o meu silêncio,
é que dentro de mim tudo transborda,
e em ti, tudo é indiferença;

se não te mostro em cores
os meus sonhos,
é que dentro de mim tudo é ternura,
e em ti, tudo é ausência;

se não te expresso em sons
a minha melodia,
é que dentro de mim tudo é harmonia,
e em ti, tudo é dispersão;

e se não me tens inteira
como gostarias,
é que dentro de mim tudo é sentimento
e em ti, tudo é apenas paixão

DIFERENÇAS




Se não te traduzo em palavras
o meu silêncio,
é que dentro de mim tudo transborda,
e em ti, tudo é indiferença;

se não te mostro em cores
os meus sonhos,
é que dentro de mim tudo é ternura,
e em ti, tudo é ausência;

se não te expresso em sons
a minha melodia,
é que dentro de mim tudo é harmonia,
e em ti, tudo é dispersão;

e se não me tens inteira
como gostarias,
é que dentro de mim tudo é sentimento
e em ti, tudo é apenas paixão

Campo de Flores
Deus me deu um amor no tempo de madureza,
quando os frutos ou não são colhidos ou sabem a verme.
Deus-ou foi talvez o Diabo-deu-me este amor maduro,
e a um e outro agradeço, pois que tenho um amor.
Pois que tenho um amor, volto aos mitos pretéritos
e outros acrescento aos que amor já criou.
Eis que eu mesmo me torno o mito mais radioso
e talhado em penumbra sou e não sou, mas sou.
Mas sou cada vez mais, eu que não me sabia
e cansado de mim julgava que era o mundo
um vácuo atormentado, um sistema de erros.
Amanhecem de novo as antigas manhãs
que não vivi jamais, pois jamais me sorriram.
Mas me sorriam sempre atrás de tua sombra
imensa e contraída como letra no muro
e só hoje presente.
Deus me deu um amor porque o mereci.
De tantos que já tive ou tiveram em mim,
o sumo se espremeu para fazer vinho
ou foi sangue, talvez, que se armou em coágulo.
E o tempo que levou uma rosa indecisa
a tirar sua cor dessas chamas extintas
era o tempo mais justo. Era tempo de terra.
Onde não há jardim, as flores nascem de um
secreto investimento em formas improváveis.
Hoje tenho um amor e me faço espaçoso
para arrecadar as alfaias de muitos
amantes desgovernados, no mundo, ou triunfantes,
e ao vê-los amorosos e transidos em torno,
o sagrado terror converto em jubilação.
Seu grão de angústia amor já me oferece
na mão esquerda. Enquanto a outra acaricia
os cabelos e a voz e o passo e a arquitetura
e o mistério que além faz os seres preciosos
à visão extasiada.
Mas, porque me tocou um amor crepuscular,
há que amar diferente. De uma grave paciência
ladrilhar minhas mãos. E talvez a ironia
tenha dilacerado a melhor doação.
Há que amar e calar.
Para fora do tempo arrasto meus despojos
e estou vivo na luz que baixa e me confunde.


Carlos Drummond de Andrade

Solidão não é a falta de gente para conversar, namorar, passear ou fazer
sexo...isto é carência.
Solidão não é o sentimento que experimentamos pela ausência de entes
queridos que não podem mais voltar...isto é saudade.
Solidão não é o retiro voluntário que a gente se impõe as vezes,para
realinhar os pensamentos...isto é equilíbrio.
Tampouco é o claustro involuntário que o destino nos impõe
compulsoriamente, para que revejamos a nossa vida... isto é um princípio da natureza.
Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado ... isto é circunstância.
Solidão é muito mais que isto.
Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão, pela
nossa Alma !!!