Assassinando, um sentimento
"Volto tremendo....
Nunca sei o que me aguarda, talvez haja apenas um corpo palido, gelado
sem vida no banheiro, ou em qualquer parte da casa.
Entro querendo nao ser percebida, sapatos na mao, ainda nao aconteceu
mas vai acontecer, um dia desses qdo eu menos esperar, sinto meu rosto
queimar, minhas maos suarem, minhas pernas tremerem.
Entro em silencio, deito-me devagar prendendo a respiracao, os olhos
arregalados esperando um movimento.
Fiquei por horas imovel, levantei-me, a meia luz podia ve-lo, estava
ali, mais vivo que nunca, podia ver o sangue correndo nas veias, enrolado
no lençol, sono pessado, parece inofensivo, ele esta ali, sem poder e nem
querer se defender, esperando uma atitude minha, tinha consciencia de
seus erros.
Encostei o revolver na sua cabeça, e como em uma brincadeira puxei o
gatilho.
Dei um tiro nele.
Foi tudo tao rapido que ele nem sentiu, sentei-me no chao, ascendi
um cigarro e fiquei olhando fixamente o sangue, em questao de segundos
a cama estava tomada por ele.
Vermelho, cheiro forte, cheiro de vida, cheiro de vida indo embora,
minhas risadas ecoavam pelos comodos vazios.
Qdo me acharam eu estava sentada no canto do quarto, com a arma na mao,
o olhar vago, a boca seca, uma mao envolvendo os joelhos.
Nao era a primeira vez que me encontravam em estado parecido.
Desta vez eu o matei.
Era mais forte que eu, estava me consumindo, me matando um pouco a cada
dia.
Eu nao suportava mais.
Levantei, queria sair dali, havia gritos nitidos em meio as falas, e
eu nao queria ouvi-los.
Apertei entre as maos a cabeça dolorida, neste instante trouxe as maos
á frente dos olhos e as observei.
Sai correndo, sem rumo, desesperada, sem gritar, com as maos para traz,
precisava arranca-las.
Nao conseguia aceitar o fato de que as maos que carregavam o amor,
agora carregava a morte. "
Agda Alvares