21 de abr. de 2002

Acolha-me



Acolha-me.

Deixei que deite em seu colo

e tenha sonhos de criança

permita-me ter medo e confessa-lo

deixa que eu solte meu ser por campos onde seja possível andar

sem jogos, sem temores e mentiras.



Acolha-me.

E guarde em seus braços meus infantis segredos

minhas dúvidas de gente grande

meus sentimentos de ser pequeno

faça com que eu deixe o mundo lá fora por apenas alguns instantes

e assim, que dentro de mim possa encontrar

alguma razão real para ainda estar vivo.



Acolha-me.

Norteai-me pelo seu olhar, mostre-me luzes que não mais vejo

segure minhas mãos com o carinho que não mais conheço

seca meu choro com palavras reais sobre um mundo tão distante

de onde vim.



Acolha-me.

Traga-me a paz em forme de gestos

não apenas me diga, mas mostre-me,

decora meu rosto com desenhos feitos com seus dedos

com linhas que novamente me liguem ao mundo doce e terno

as possibilidades de ser mais do que o herói de uma noite

o vilão de um amanhecer.



Acolha-me.

Dê guarida ao meu fugitivo, ao meu insistente ser

ao que resta dos meus exércitos de bondade e luz.

Semeia em meu corpo gestos puros e leves

guarda minhas costas para que eu possa enfim dormir

para que me sinta na casa dos seus braços

como um viajante que finalmente chegou.



Acolha-me.

E não peça nome e nem documento

não me fale daquilo que eu possa lhe dar e você possa e pegar e perder com as
mãos
Acolha-me e olhe dentro dos meus olhos

busque por mim

grite num sussurro meu nome

tira-me disso tudo

enquanto ainda há o que tirar.



Acolha-me.

E com a tinta do seu amor

escreva comigo uma história bonita

destas onde o amor existe.

Segue comigo num cavalo branco

numa noite de lua

para um lugar qualquer

que mesmo existindo apenas em nossa comum imaginação

será uma ilusão segura

que me fará de novo viver.



Acolha-me.

Preciso de seus braços

para de novo poder ver a Deus.





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